Na série especial de reportagens do Tino Marcos com os jogadores da Seleção, você vai conhecer hoje o caçulinha do grupo.
Qual o diminutivo de franzino? “Um menino raquítico, muito baixinho, franzininho”, afirma Felipe Souto, meio-campo do Atlético (MG).
“Se ele já é franzininho hoje, você imagina com 14 anos o Bernard”, diz André Figueiredo, gerente de divisão de base do Atlético de MG.
Cinco anos mais novo que a irmã do meio, sete anos mais novo que a irmã mais velha. Temporãozinho.
“É mais caçula do que já é pelo fato de ser bem novo e pequeno”, conta Bernard.
Aos 21 anos, o menor e o mais jovem jogador da Seleção. Hoje, 1,63m. E quando não tinha tudo isso?
Aos 14 anos, mesmo aprovado pelo Atlético Mineiro, apenas treinava, jamais competia.
“Não jogou no pré-infantil, não jogou no infantil”, lembra André Figueiredo.
“Fiquei um ano e meio sem jogar na base e, mesmo assim, eu não faltei a nenhum treino”, afirma Bernard.
“A gente sempre ouvia: ‘Ah, mas não tem como chegar, porque é pequeno, é fraco”, conta o pai do jogador, Délio Duarte, pai de Bernard.
“Várias pessoas chegaram a falar comigo que eu não iria conseguir jogar futebol”, diz Bernard.
Chegou a ser dispensado do Atlético.
“O momento em que cheguei em casa e que falei com meus pais, o choro. Isso foi algo que me fortaleceu mais ainda”, admite Bernard.
Seria depois reintegrado e, enfim, conseguiu jogar aos 17 anos. E o Atlético cedeu um time inteiro para outro clube, o Democrata, que estava na terceira divisão mineira.
“Fizemos um time B, com a camisa do Democrata e foi uma experiência ótima”, conta André Figueiredo. Bernard foi um dos cedidos.
“Eu não queria, não queria. Meu pai também não queria. Acho que ninguém queria lá em casa”, afirma o jogador. Mas foi a grande virada.
“Acho que foi o alavancar dele, né? Seguir a carreira dele como atleta, como profissional, foi ótimo para ele”, comenta Alexandre Coelho, massagista do Atlético.
Voltou para o Atlético e, aos 19, já estava no profissional. E este seria o endereço da consagração: o novo Mineirão, o Mineirão da Copa do Mundo.
Para vê-lo inteirinho, só do alto, bem do alto. Mas é ao nível do chão, no campo de jogo, que se faz história nesse gigante. E por falar em gigante, lá, Bernard foi protagonista no título da Libertadores. No estádio, Bernard foi pedido, em coro, até pelos torcedores do Cruzeiro.
E entrou em campo. Era a semifinal da Copa das Confederações contra o Uruguai. E o baixinho se firmava como um dos preferidos de Felipão.
"Que alegria nas pernas tem aquele guri", disse Felipão na época.
E ter alegria nas pernas é ter o quê? “É ter mudança de direção rápida, que tem uma velocidade, uma agilidade”, responde o jogador.
O menino desacreditado se transformou na maior venda já feita pelo Atlético Mineiro. Por R$ 77 milhões, foi para o Shakhtar, da Ucrânia.
Donetsk, no leste do país, vive tempos de turbulência política nas relações da região com a Europa e a Rússia. É uma cidade cinzenta e gelada. Às 16h, praticamente não há mais luz natural. É assim em boa parte do ano em Donetsk, na Ucrânia. É meio triste mesmo. Ou não.
Alegrias nas pernas só não. “Aquele ali é alegria total”, diz o massagista Alexandre.
“É, a alegria dele é no corpo todo, né?”, afirma a mãe, Délia.
“Eu procuro estar sempre alegre”, conta Bernard.
Lucas, o melhor amigo de Bernard desde a infância, mora com ele na Ucrânia. A Lucas, Bernard oferece casa, trabalho e sorriso.
“Pode estar no dia ruim dele que ele vai estar sempre sorrindo para você”, afirma o amigo.
“É dele mesmo, é luz própria”, comenta a mãe, Délia.
“O que ele mostra é o que realmente é. A pureza dele é diferente, é verdadeira”, diz o amigo Lucas.
“O brilho no olhar, o sorriso, está tudo ali”, completa a mãe.
Com esse jeito simples, mineiro, de ser, o caçula do time já ouviu sugestões perigosas na Seleção.
“Conta piada de gaúcho... O Felipão é gaúcho. Aí os caras: ‘Não, eu não’”, diz o jogador.
Mineiramente, o caçula de Décio e Nélia, que custou para se firmar, chega à primeira Copa do Mundo, aos 21 anos.
“Ele tem uma estrela, sim. Acho que tem um brilho a mais que Deus tem guardadinho para ele”, diz o pai de Bernard.
E quando ele nasceu, coube ao pai escolher o nome. “Eu tinha comigo guardado, não falava pra ninguém. O nome é o jornada nas estrelas, é o Bernard do vôlei”, conta o pai.
Bernard, da seleção de prata olímpica do vôlei, famoso que fazia a bola subir, subir.
Inspiração no saque jornada nas estrelas.
Brilho, estrela, jornadas de sucesso. E o baixinho continua a subir.
“Dentro de todos os sonhos que eu tinha para mim mesmo, eu não conseguiria ver o que está acontecendo nesse momento”, afirma Bernard.